domingo, 1 de agosto de 2010

A Era da Bunda-Molice

"O maior castigo para aqueles que não se interessam por política, é que serão governados pelos que se interessam." -Arnold Toynbee-

“Tudo que é preciso para o triunfo do mal é que as pessoas de bem nada façam.” (Edmund Burke)

A Era da Bunda-Molice.

Hoje eu acordei com vontade de chutar o balde. Estou de saco cheio desses pseudo-bons cidadãos, pagadores de impostos, defensores da moral, da justiça e da virtude. Você abre um e-mail, uma revista, um site, assiste à televisão e estão lá os hipócritas repetindo as mesmas frases de efeito acima reproduzidas, sem uma contextualização coerente e numa clara manipulação em proveito próprio.

É..., em proveito próprio sim, seja visando uma exposição na mídia, no trabalho, em sua classe ou bairro, seja visando arvorar uma imagem de “paladino da defesa moral do ocidente”, ou de “bom cidadão exemplar indignado com o que os pobres mortais normais parecem que não enxergam”, seja para parecer integro, critico, participativo e inteligente para as meninas ou meninos bonitos da turma e por aí vai.

Engraçado é que eram outras frases feitas como essas que deveriam tomar lugar nesses textos. Desta feita, em favor da probidade pessoal, em contraste com a hipocrisia intrínseca do brasileiro. Frases como “Macaco enrola o rabo, senta em cima e fala mal do rabo do outro”, “quem com ferro fere, com ferro será ferido”, “aqui se faz, aqui se paga”, “vê um cisco no olho do outro, mas não vê uma trave no seu próprio” e outras seriam mais apropriadas para a brasilidade atual.

Sinceramente, me enche o saco ver essa camarilha de bundas-moles sem sal nem açúcar, sem coragem de assumir um posicionamento forte em defesa do que quer que seja, posando de indignados, mas revendo e reescrevendo seu discurso mais de uma dezena de vezes para ser o mais genérico e evasivo possível, pautado dentro das linhas do politicamente correto, sem desagradar ninguém, sem citar ninguém e, pior, sem coragem de abrir o jogo e soltar o descontentamento interno, rumo ao que poderia gerar um debate dialético que, este sim, teria alguma chance de render algum fruto que não estivesse podre desde o nascimento.

Então, cambada das Ong´s, movimentos sociais, entidades de classe, OAB, representantes religiosos, partidos políticos, associações de bairro, clubes de serviço e demais simulacros pseudo-participativos dessa sociedade do “Panis et circensis”, que tal uma opinião realmente critica, indignada, descontente e radical com relação ao que é e que chances tem de vir a ser o Brasil e o brasileiro??

Vamos falar umas poucas linhas, superficialmente mesmo - quem se preocupar, que se aprofunde, conteste, manifeste ou cale-se, indignado – sobre alguns temas afetos a esse arremedo de nação que temos, então!

É, arremedo de nação sim, por que, pra começar nem uma identidade cultural nós temos. Nós, os patriotas de Copa do Mundo, os torcedores do Guga que não entendem patavina das regras do tênis e que, após a primeira derrota, já abandonamos o referencial citado, sem valorizar sequer o esforço do cidadão em questão. Sabem o porquê disso?Por que nós não estamos, nessa “torcida”, valorizado a representação do arquétipo do espírito do brasileiro, da pátria de raquete, ou coisa que o valha.

Nós simplesmente nos projetamos no paradigma em destaque e arreganhamos nossa falta de civilidade e de identidade, nossa super-individualidade, querendo se apoderar das vitórias alheias, sem esforço nem reconhecimento, para tentar melhorar um pouco nossa auto-imagem egoísta e hipócrita e que não temos coragem de assumir. “Sou brasileiro e não desisto nunca”, que piada! É o atleta perder um jogo, uma luta, uma partida e ele “tá acabado”, “não é mais o mesmo”, “nunca foi grande coisa” e tudo mais que o valha.

Ainda dentro desse exemplo do esporte, não podemos nos esquecer de dizer que o atleta é uma pessoa que, por definição, teria que seguir um padrão de vida regrado por disciplina, dedicação, esforço próprio, superação e amor ao esporte. Só esses valores, mesmo inconscientes, fariam maravilhas no individuo, mas não é nunca o que “brasileiro que não desiste nunca” observa e valoriza: Ao contrario, nosso parâmetro é o sucesso financeiro, material que, ao invés de enlevar as virtudes acima elencadas, aponta para uma vida de excessos, drogas, desrespeito e coisificação da pessoa humana e outras mais, como temos visto nos casos recentes, envolvendo os atletas semi-analfabetos do futebol. Subliminarmente, está aí o “Panis et circensis” não é?

E esses são os paradigmas da sociedade...Esses e os pseudo-artistas com suas composições estúpidas, de uma frase só, de uma imagem e comportamento sofrível, semi-deuses com pés de barro.

Mas peraí, é isso então? A culpa é dos jogadores de futebol e dos pagodeiros?? É por isso que a “nação do politicamente correto” se indigna com a Dilma guerrilheira e vota no Serra, se indigna com os dois e vota na Marina? É por isso que os manequins da moral e cívica evocam Hitler, Chaves, Collor o tempo todo? É deles a culpa das frases feitas?

Acredito que não...vamos lá:

Na saúde, temos médicos que vendem receitas de remédios controlados por 25 reais, vendem atestados médicos por 15 reais, que atendem pacientes em “linha de produção”, sem sequer olhar no rosto dos mesmos, arrogantes, imprudentes e negligentes.Médicos que nunca se atualizam e fazem o jogo da industria farmacêutica, em troca de gratificações. Temos hospitais que se negam a atender problemas clínicos e enchem seus prontuários de atendimento de acidentes com exames que, muitas vezes nem realizam, para dessangrar o DPVAT.

Na segurança temos profissionais formados a toque de caixa, pra suprir as estatísticas de que o governo necessita, recebendo gratificações de terceiros por investigações, cobrando propina nas rodovias, destruindo provas, fraudando licitações, liberando obras inseguras e insalubres, descaracterizando flagrantes, achacando muambeiros, mancomunados com traficantes e contrabandistas, vendidos e subservientes, preocupados apenas com a carreira e o status pessoal,vendo a segurança como um fim em si mesmo e não uma necessidade do estado. Vemos uma segurança publica transformada em emprego, sem identidade, sem sentido de missão, sem comprometimento, numa luta de classes interna que repete o binômio egoísmo e hipocrisia.

Nas relações de trabalho temos patrões que olham o empregado como despesa, avaliando custo/economia, ao invés de custo/benefício, o que provoca a queda na qualidade do serviço prestado, a queda na satisfação do cliente e a queda na auto-estima do profissional capacitado.

Chega a ser engraçado: o bom empregado, ao invés de gratificado é sobrecarregado, em detrimento do mau funcionário, somando-se a isso a torcida comunitária da baixa funcionalidade pelo erro do bom funcionário, devidamente sobrecarregado pela ganância do patrão!

Vou até dar uma resumida meio “saramaguiana”, senão este artigo vira um livro: São os pseudo - bons pais emprestando automóvel para seus pseudo - bom filhos ficarem tirando racha, incomodando o sossego com som alto e empesteando o transito com suas transgressões; O próprio trânsito, por sua vez é a maior mostra de falta de civilidade, cortesia e paciência que alguém pode encontrar. Nem tem muito o que se falar, se nem a sinalização é respeitada; Aliás civilidade?Vai me dizer que você nunca chegou em casa cansado e querendo descansar e uma aberração da sociedade atual chamada vizinho não estava com um som altíssimo até a madrugada e gritando “truuuuuco!”...Cortesia? Que cortesia você encontra quando você vê um guri de 18 anos quase atropelando um senhor ou senhora de 70 anos, apenas para sentar-se no banco de um ônibus?Paciência?A coitada da menina do caixa, que você fica xingando na fila, por acaso tem culpa que o imbecil da sua frente enfiou um carrinho lotado no caixa que dizia “apenas 10 itens”?

Nem vou falar no vicio do poder, na sedução da política, porque isso já encheu o saco, mas venha cá: Você, no período eleitoral, dá um cheque em branco para um cidadão do qual você não conhece nada, a não ser um bordão, em seguida – como no caso do Guga, supracitado - comemora a vitória no esporte eleitoral, depois nunca mais se inteira sobre a atuação do seu atleta-politico e vem querer me dizer que fez a sua “parte na democracia representativa”? E que representatividade é essa, se o cidadão que você elegeu não é do seu bairro, da sua classe social, da sua profissão ou de identidade social similar a sua?? Como ele pode te representar se ele não sabe o que você quer, acredita ou precisa, o que seu bairro, sua classe social ou área profissional precisam?

É, meus amigos, acho que precisamos parar de assistir a novela um pouco, precisamos parar de acreditar em sonhos, destinos e ideais, e sair da “zona de conforto”. É muito fácil culpar o governo, o professor, o vizinho, o padre, o destino, o político, o marido, e ficar no seu cantinho, vitimizado, impotente, esperando que os céus te resgatem e o destino glorioso que o aguarda, te conduza aos píncaros da gloria!É muito fácil culpar o outro e não mexer um dedo para mudar a si mesmo!É por isso que aparecem os “pais do povo”, com suas frases feitas e artigos politicamente corretos.

É certo que passou o tempo de acreditar em uma revolução coletiva, até pela própria racionalidade em que isso implica e chega de achar que o que é melhor pra você é o melhor pra todo mundo!!Chega de ser o “salvador da pátria”! A única revolução possível e, por isso mesmo, a única revolução necessária é a revolução pessoal, é mudar primeiro em si mesmo o que acredita ser melhor para o mundo. Um amigo muito querido usava este chavão: “A lei obriga, o exemplo arrasta”. Se o seu ponto de vista for realmente relevante, ele vai influenciar, vai germinar e vai frutificar! Não adianta querer impor sua verdade, do mesmo jeito que não adianta ficar imóvel reclamando!

O desenvolvimento do senso critico, este é sim a grande mudança que o mundo precisa: A capacidade de analisar com o embasamento adequado, tirar conclusões e se posicionar perante as vicissitudes da vida e qualquer outro assunto, sem esquecer que essa capacidade não te dá o direito de monopólio do certo e do errado, de impor ao outro a sua verdade.

O desenvolvimento do cidadão critico e esclarecido implica no desenvolvimento do cidadão dialético, que não impõe sua verdade nem sua vontade, ao contrario, expõe seus argumentos e busca algo mais próximo de uma solução. Assim, sem subserviência, canalhice ou sofismas, chegaríamos a algo próximo do conceito puro de individuo, que poderia eleger um representante, ser ele mesmo esse representante, ou chutar tudo para o alto e ter condições de sustentar sua escolha.

Mais uma utopia? Mais um amontoado retórico impraticável? Depende do posicionamento pessoal:
-Você pode não mexer a bunda do sofá, não questionar ou criticar e aceitar tudo como está;
-Você pode ser um dos canalhas maquiavélicos que manipulam tudo isso e tudo certo também..., Pois aí você será a prova que o mundo precisava para testar o próprio senso critico, meu querido Lúcifer!
- Você pode se manter dentro da sua matrix pessoal e ser feliz, vivendo no seu mundo de sonhos, sem culpas, afinal é a SUA vida e só a VOCÊ ela interessa!
Agora, de uma vez por todas, se você possui um mínimo de senso critico, entenda que ser vitima de outros é inteligível, agora ser vitima de si mesmo, é inaceitável e o maior crime contra a humanidade que alguém poderia perpetrar.
Sem nenhuma pretensão, a não ser a me expressar e, se mérito houver, de suscitar o debate, atenciosamente, Marcel Marcus Manholi.

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